Há uns anos atrás eu me apresentava
como artista plástica somente, não conseguia entender o artesanato que para mim
era somente um sistema de produção e muitas vezes me recusava a fazer peças
repetidas. Sempre valorizei o trabalho artesanal mas, tinha uma visão muito
equivocada do artesão.
Comecei a mudar a minha
forma de ver o artesão quando iniciei um estudo sobre o livro “O artífice” de
Richard Sennett.
“No
livro O Artífice, Sennett expande o conceito de "artesanato", uma vez
que entende o trabalho manual como o melhor termômetro para as reações de
satisfação e frustração provocadas pelo desejo de fazer as coisas da melhor
maneira possível. Para ele, artesanato está presente tanto nas formas mais
rudimentares de se executar um trabalho como no exercício de atividades de
maior complexidade, como a medicina, a música e a arquitetura. "Habilidade
artesanal designa um impulso humano básico e permanente, o desejo de um
trabalho bem feito por si mesmo", escreve Sennett na apresentação do
livro.” Ubiratan Brasil - O Estadão de S. Paulo
Sabemos que a maestria é
resultado da experiência, da prática e no dia-a-dia começamos a exercitar as
várias formas do fazer artístico até chegarmos a um ponto que nos satisfaz.
Hoje percebo que algumas coisas são feitas para serem únicas e outras foram
criadas para serem replicadas. Isso não diminui o valor estético mais sim abre
espaço para que mais pessoas possam usufruir de um objeto ou produto que
achamos “belo”.
É muito importante vermos o
artesão valorizar o seu trabalho e se valorizar também pois isso vai fazer a
diferença na valorização do seu trabalho. Temos que perceber que mais do que
variar técnicas e produtos o que o artesão faz é agregar valor ao que produz. O
artesanato revela a história do artesão, a memória de sua região e de sua
cultura e quanto mais significados ele coloca em suas peças mais ele cativa o
comprador ou o turista que vem buscar um pouco dessa história.
Assistindo um vídeo da
Rafaela Cappai sobre empreendedor criativo no qual ela cita a possibilidade do
artesão “encantar” o cliente com seu trabalho podemos ver que isso é essencial para
quem cria. Podemos acrescentar um significado numa produção, que se tornaria
fria e sem vida, se não fosse seu potencial de concentrar memórias e
experiências de vida.
Realizar um trabalho com
amor, produzir coisas inovadoras, acrescentar significados ao processo
produtivo pode ser o caminho para o artesão conquistar seu espaço, melhorar sua
valorização e também reconquistar sua auto estima.
A arte está de mãos dadas
com o artesanato, assim como a Moda tem se aproximado dos artesãos para agregar
valor às suas peças. No meio de tudo isso o “Design”, que apesar de ser uma
palavra simples que significa desenho, incorporou um novo sentido na produção
artística a partir do momento estimula o artesão a elaborar mais a forma e acrescentar
novos valores ao produto.
Hoje, sinto muito orgulho de
ser artesã, de produzirmos nossa cerâmica com o máximo de qualidade possível
assim como tentamos agregar ideias e significados ao que fazemos. Ao criarmos uma peça ela já tem em sí uma
história, mas é feita para criar outra história entre os que compartilham um
momento especial utilizando uma peça de cerâmica. No final das contas
misturamos nossas memórias com a dos nossos clientes e passamos a fazer parte
desse clima mágico que a arte desperta.
Continuamos a fazer da vida
uma arte e da arte um alimento para a vida. E, no caso da cerâmica RM tentamos
fazer peças com arte para alimentar e potencializar mais um tanto de vida para
nossos clientes.
Rose Valverde
04/2015
Perfeito Rose! Gosto muito de sua reflexão. Acrescento aqui que somos exímios na habilidade manual, corporal, oral, advindas como constituição das confluências ibero/latino/americano. Por isso, temos que pensar a América Latina e o Brasil a partir da noção de que nós temos aqui uma configuração lógica que não cabe nos moldes do ocidente europeu.
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