segunda-feira, 13 de abril de 2015

Artista ou artesão, qual a diferença?



Há uns anos atrás eu me apresentava como artista plástica somente, não conseguia entender o artesanato que para mim era somente um sistema de produção e muitas vezes me recusava a fazer peças repetidas. Sempre valorizei o trabalho artesanal mas, tinha uma visão muito equivocada do artesão.
Comecei a mudar a minha forma de ver o artesão quando iniciei um estudo sobre o livro “O artífice” de Richard Sennett.

“No livro O Artífice, Sennett expande o conceito de "artesanato", uma vez que entende o trabalho manual como o melhor termômetro para as reações de satisfação e frustração provocadas pelo desejo de fazer as coisas da melhor maneira possível. Para ele, artesanato está presente tanto nas formas mais rudimentares de se executar um trabalho como no exercício de atividades de maior complexidade, como a medicina, a música e a arquitetura. "Habilidade artesanal designa um impulso humano básico e permanente, o desejo de um trabalho bem feito por si mesmo", escreve Sennett na apresentação do livro.” Ubiratan Brasil - O Estadão de S. Paulo

Sabemos que a maestria é resultado da experiência, da prática e no dia-a-dia começamos a exercitar as várias formas do fazer artístico até chegarmos a um ponto que nos satisfaz. Hoje percebo que algumas coisas são feitas para serem únicas e outras foram criadas para serem replicadas. Isso não diminui o valor estético mais sim abre espaço para que mais pessoas possam usufruir de um objeto ou produto que achamos “belo”.
É muito importante vermos o artesão valorizar o seu trabalho e se valorizar também pois isso vai fazer a diferença na valorização do seu trabalho. Temos que perceber que mais do que variar técnicas e produtos o que o artesão faz é agregar valor ao que produz. O artesanato revela a história do artesão, a memória de sua região e de sua cultura e quanto mais significados ele coloca em suas peças mais ele cativa o comprador ou o turista que vem buscar um pouco dessa história.
Assistindo um vídeo da Rafaela Cappai sobre empreendedor criativo no qual ela cita a possibilidade do artesão “encantar” o cliente com seu trabalho podemos ver que isso é essencial para quem cria. Podemos acrescentar um significado numa produção, que se tornaria fria e sem vida, se não fosse seu potencial de concentrar memórias e experiências de vida.
Realizar um trabalho com amor, produzir coisas inovadoras, acrescentar significados ao processo produtivo pode ser o caminho para o artesão conquistar seu espaço, melhorar sua valorização e também reconquistar sua auto estima.
A arte está de mãos dadas com o artesanato, assim como a Moda tem se aproximado dos artesãos para agregar valor às suas peças. No meio de tudo isso o “Design”, que apesar de ser uma palavra simples que significa desenho, incorporou um novo sentido na produção artística a partir do momento estimula o artesão a elaborar mais a forma e acrescentar novos valores ao produto.
Hoje, sinto muito orgulho de ser artesã, de produzirmos nossa cerâmica com o máximo de qualidade possível assim como tentamos agregar ideias e significados ao que fazemos.  Ao criarmos uma peça ela já tem em sí uma história, mas é feita para criar outra história entre os que compartilham um momento especial utilizando uma peça de cerâmica. No final das contas misturamos nossas memórias com a dos nossos clientes e passamos a fazer parte desse clima mágico que a arte desperta.


Continuamos a fazer da vida uma arte e da arte um alimento para a vida. E, no caso da cerâmica RM tentamos fazer peças com arte para alimentar e potencializar mais um tanto de vida para nossos clientes.
Rose Valverde

04/2015

Um comentário:

  1. Perfeito Rose! Gosto muito de sua reflexão. Acrescento aqui que somos exímios na habilidade manual, corporal, oral, advindas como constituição das confluências ibero/latino/americano. Por isso, temos que pensar a América Latina e o Brasil a partir da noção de que nós temos aqui uma configuração lógica que não cabe nos moldes do ocidente europeu.

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